sábado, 12 de maio de 2012

Os homens também se querem bonitos


Ou, pelo menos, trajados de acordo com a imagem que têm de si mesmos. É o que acontece com estes nobres de ambos os sexos, representados no Livro de Horas do Duque de Berry, em que quase podemos sentir a sumptuosidade dos tecidos vestidos pelas personagens: veludos ricos, sedas importadas, a peso de (muito) ouro, da longínqua China. Preparava-se já a alegria de viver e de descobrir do Renascimento europeu, como demonstram estas cores risonhas como uma noite entre jograis.
Esta obra, mundialmente famosa, contém, como todos os livros de horas, orações a serem ditas a cada hora canónica do dia. Foi encomendado por João, Duque de Berry, cerca de 1410. Tão ricas e meticulosas são as iluminuras que exigiram quase um século de dedicação, assumida por artistas como Barthélemy van Eyck, Jean Colombe e ainda os Irmãos Limbourg. Atualmente, o Livro está depositado no Castelo de Chantilly, em França.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Miss Lake in action




Ei-la em acção (com o seu justamente mítico penteado). Ao melhor estilo do film noir, anos 40.

O cabelo de Veronica Lake




"You could put all the talent I had into your left eye and still not suffer from impaired vision."
       Veronica Lake

  Muito jovem, Veronica Lake tornou-se a mais fatal das mulheres nos thrillers da década de 40. Para essa imagem muito contribuía a longa cabeleira loura lançada sobre um dos olhos. Obrigada a olhar de baixo para cima, a vamp surgia, assim, envolta numa aura de mistério impenetrável, que muitas mulheres, nos Estados Unidos (e fora deles) quiseram imitar.
  Mas os tempos não estavam de feição para mistérios. Com a Guerra, as mulheres foram chamadas às linhas de montagem das fábricas de armamento: enfrentar alemães e japoneses passou a ser mais importante do que seduzir o Alan Ladd mais à mão. Depois de muitos (e dolorosos) acidentes com as copiosas melenas presas nas máquinas, o Ministério da Guerra persuadiu a "culpada" a fazer o seu dever patriótico, mostrando às suas fãs como podiam manter a feminilidade sem abdicar da segurança. O que ela fez com gosto e simpatia. Só não se manteve a si própria em segurança: morreu aos 50 anos, esquecida de todos e mergulhada no rio sem regresso do alcoolismo profundo.



domingo, 6 de maio de 2012

By Balenciaga

Detalhe de vestido de cocktail, 1966

By Balenciaga


Cristobal Balenciaga, requinte made in San Sebastian




Cristobal Balenciaga com o seu perfil à Jay Gatsby
   Chanel, que não era mulher dada a elogios, não esteve com meias medidas para definir o trabalho de Cristobal Balenciaga: "É o único verdadeiro costureiro entre nós". Fosse porque, nos seus melhores anos, o basco era belo como Rudolfo Valentino, fosse porque a sensual elegância dos trajes por ele assinados tocaram Mademoiselle, a verdade é que, nas décadas de 40 e 50, Balenciaga foi muito mais do que um Christian Dior ibérico.
   Nascido na pequena vila piscatória de Guetaria de 21 de janeiro de 1895, apaixonou-se pela moda com as mulheres da sua família. Marina Balenciaga, sua mãe, era modista da très exquise Marquesa de Casa Torres, uma das mulheres mais ricas da região. Fascinado pela beleza dos vestidos que ela importava de Paris e Londres, o pequeno Cristobal cedo percebeu que a moda era um passaporte para um mundo de sonho e sofisticação, maior do que a vida de todos os anos. 
   Aos 8 anos, mudou-se, com a família, para San Sebastian e o rapaz não só foi a banhos de mar como mergulhou numa das mais cosmopolitas estâncias balneares da Europa. Á beira da baía de La Concha, passeava-se, entre outras figuras & figurões, a família real espanhola, que, desde 1906, tinha como "estrela" a belíssima rainha, Victoria Eugénia, que viera de Londres para a movimentada cama do Rei Afonso XIII. Por essa época, em que o recurso ao trabalho infanto-juvenil era um recurso fundamental para as famílias, Cristobal iniciou a sua formação como aprendiz de alfaiate em dois dos melhores estabelecimentos do género, a Casa Gómez e a New England. Em 1911, mudou-se para os Grandes Almacenes Au Louvre, onde, dois anos volvidos (i.e. com apenas 18) se tornou responsável pela confeção de senhora. Nessa qualidade, começou a viajar para Paris e a tomar contacto directo com que o de melhor e mais vanguardista se fazia em moda nos anos que precederam a Iª Grande Guerra. Em breve, Balenciaga tornar-se-ia uma marca sediada em San Sebastian, procurada pelas damas da corte em férias de verão.
   Esta doce prosperidade, calma como um passeio à beira-mar, foi interrompida pelas convulsões da própria História de Espanha. Em 1931, a proclamação da República levou para o exílio grande parte da sua carteira de clientes e cinco anos depois foi a própria Guerra Civil que "mandou" o costureiro para Paris. O que poderia ter subjugado outros foi uma oportunidade de ouro para o talentoso Cristobal. Em poucos anos, instalava o "quartel general" das suas operações na Avenue Georges V e era colocado, por público e crítica, lado a lado com figuras cimeiras da moda internacional como Coco Chanel, Elsa Schiaparelli e Mainbocher. Segredo? Muita determinação e a consciência de que só sendo fiel à sua cultura se pode ser universal.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A divina assombração de Mademoiselle Coco



Jean-Paul Goude, once again. Em 1992, uma quase adolescente Vanessa Paradis (pré Johnny Depp, entenda-se) era uma ave do paraíso a assobiar "Stormy Weather", neste anuncio para a fragrância "Coco". Vemos um gato branco fascinado, indiferente à trovoada e a tudo o que se passe fora daquela gaiola. Vemos também uma mão de mulher cuidada a tapar um frasco do perfume anunciado. Num punch line brilhante compreendemos que essa mão não é deste mundo. Pertence ao próprio esprit de Chanel. Ao todo, são 29 segundos. Está lá tudo para nos mergulhar num mundo de encantamento.