quarta-feira, 14 de março de 2012

Grimaldi, uma dinastia decorativa


No Mónaco procura-se a beleza com a sede dos perdidos no deserto. Às suas princesas não basta parecerem elegantes, correctas e amáveis, têm também de ser as mais belas e inacessíveis de toda as casas reais europeias. Só assim poderão fazer esquecer que, na origem da sua linhagem, está um astuto pirata e que, no cômputo da geo-estratégia mundial, o Mónaco não tem qualquer importância.
Rainier compreendeu-o melhor do que ninguém e da cartola retirou o truque publicitário mais genial do século: pediu em casamento uma fulgurante "estrela"de Hollywood, que rodava às ordens de Hitchcock. Rainier e Grace Kelly casaram a 19 de abril de 1956, numa cerimónia digna de uma grande produção cinematográfica.

Campanha da Gucci com Charlotte Casiraghi, filha de Carolina do Mónaco e neta de Grace

Resultou em pleno. Doravante, o rochedo encravado no sul de França tornou-se tão badalado na imprensa internacional como a corte de Londres. Vieram os bebés (Carolina, Alberto e Stéphanie), os bailes, as visitas vindas da Meca do Cinema, as viagens a Paris, as idas ao Circo mais glamouroso do mundo. Mas vieram sobretudo milhares e milhares de reportagens de moda. Sua Alteza Sereníssima, a Princesa Grace manteve-se fiel a si mesma, continuando a ser, nas suas novas funções, o ícone de estilo que fora enquanto "estrela" de Cinema.
Carolina enquanto jovem modelo na capa da Vogue Paris
Grace com a mala Hermès que tem o seu nome



Grace tornou-se um ícone de moda antes de mais porque era realmente deslumbrante, mas também porque a sua imagem imaculada construída à base de pérolas e luvas brancas estava, aos olhos das suas contemporâneas, muito próxima da perfeição. As suas preferências iam para os modelos concebidos por Christian Dior (os amplos vestidos New Look assentavam-lhe maravilhosamente), Jacques Fath, Balenciaga e Hubert de Givenchy. Mesmo na praia ou em ocasiões mais informais, Sua Alteza apresentava-se à altura da sua lenda com calças justas à altura do tornozelo devidamente complementadas por lenços Hermès e sapatos rasos que, graças ao filme protagonizado por Audrey Hepburn, em breve receberiam o nome de "sabrinas".
A maior marca deixada por Grace no mundo da moda incidiu sobre os acessórios. Para além dos lenços Hérmès e Liberty of London, das jóias Van Cleef & Arpels, há sempre que referir a mala que tomou o seu nome. Concebida nos anos 30 por Maurice Hermès, consciente das crescentes necessidades de mulheres tão elegantes como activas, esta grande mala, de forma simples mas confeccionada na melhor pele, tomou um novo alento no mercado quando a princesa do Mónaco escondeu atrás dela a sua primeira gravidez. Com olho para o negócio, o fabricante passou a designar esta peça extremamente cara por "Kelly bag".
Grace morreu jovem, mas passou o testemunho à primogénita, Carolina, que manteve o porte real mesmo quando a doença lhe fez perder a cabeleira. A filha desta, a belíssima Charlotte Casiraghi, é, por sua vez, uma digna herdeira da avó que não chegou a conhecer. Acaba de protagonizar uma campanha publicitária da Gucci e, em Setembro de 2011, foi capa da Vogue Paris, devidamente fotografada por Mario Testino. A casa Grimaldi, debilitada pelos comportamentos erráticos de Stéphanie e Alberto, pode, enfim, respirar de alívio.

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