domingo, 22 de abril de 2012

Bâton, arma de sedução


A culpa deve ser de Marlene Dietrich. No filme Dishonored (de Josef Von Sternberg, 1931), a loura mais enigmática do cinema dá vida a uma espia de excepcional coragem que pede um derradeiro instante ao pelotão de fuzilamento. Não implora o perdão de Deus nem apela à compaixão dos juizes. Saca do bâton e retoca a maquilhagem. Nada podia ser mais sedutor do que tão provocadora extravagância. Coquette em vida, a agente X-27 sê-lo-ia também na morte.
O bâton, tal como o conhecemos, é um produto do século XX e deve a sua democratização comercial a pioneiras da cosmética como Helena Rubinstein ou Elizabeth Arden, que começaram por criar cremes mas cedo alargaram o âmbito das suas atividades a outras áreas. Nas primeiras décadas do século, estas empresárias tomaram consciência de que as mulheres que começavam a assumir funções profissionais já não se sentiam confortáveis com a austeridade da época vitoriana, que dividia o sexo em duas categorias estanques: as respeitáveis e as outras. Em plena Segunda Guerra Mundial, com o mundo de luto trajado, Elizabeth          
Arden ousou mesmo criar um bâton vermelho. Perante o escândalo de alguns, a nova moda tornou-se rapidamente um sucesso fulgurante de vendas. Até hoje.
 Apesar de normalizado, o bâton não perdeu completamente o perfume de subversão que já teve. No Irão do presidente Khatami, as jovens usam-no contra a apertada vigilância que o código de honra ainda impõe às mulheres. Como quase sempre acontece na História da Moda, este é um sinal inequívoco de libertação. As mulheres assim maquilhadas não estão simplesmente a alimentar um capricho - estão determinadas a não permitir que decidam, por elas, os seus destinos.

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